sábado, 19 de maio de 2018

A Estrada de Ferro Morro Velho (EFMV)

Quem passa na estrada MG030 em direção a Nova Lima já deve ter notado a presença discreta de locomotivas e de vagões estáticos e também de uma escavadeira nos canteiros próximos à rodovia. Esse material pertenceu à mineradora de ouro Morro Velho (St. John d'El Rei Mining Company Ltd), atualmente Anglo Gold Ashanti Ltd. 

As locomotivas e os vagões especificamente eram da Estrada de Ferro Morro Velho (EFMV). A ferrovia foi aberta pela empresa para transporte de carga e de empregados para a mina. A linha foi criada entre 1913 e 1914 e ligava os municípios de Raposos e de Nova Lima, servindo também à população dessas cidades com trens de passageiros. 

Composição de passageiros com a igreja de Nossa Senhora do Rosário (Nova Lima) ao fundo 
(Foto de Earl Clark, divulgada no excelente site de Allen Morrison)


A ferrovia iniciou as atividades eletrificada em toda sua extensão,sendo a segunda do país a usar eletricidade para mover seus trens depois da Estrada de Ferro Corcovado no Rio de Janeiro. Segundo artigo de Ralph Giesbrecht, há uma divergência entre duas fontes  - Stiel e Morrison de um lado e Pimenta de outro - em relação ao ano de abertura da via. A respeito dessa divergência, o pesquisador Allen Morrison, em artigo publicado em seu site, sugere, baseado nesses dados, que a linha teria iniciado as atividades em 1913 e a extensão completa da linha teria sido aberta em 1914.

 A linha tinha bitola de 0,66 m e partia da estação de Raposos, junto à Estrada de Ferro Central do Brasil. A referida estação tinha duas plataformas. Junto a uma delas, passava a linha da Central do Brasil que vinha de Belo Horizonte em direção ao Rio de Janeiro. Do outro lado, a estação servia à linha da EFMV e seguia 9,5 km até a cidade de Nova Lima. Entre Raposos e Nova Lima, a ferrovia favorecia um povoado chamado de Galo onde havia uma estação e uma fábrica de arsênio da mineradora. Essa estrada de ferro foi criada para facilitar o transporte de materiais e de funcionários da mineradora desde a linha da EFCB até a mina de Morro Velho. Embora servisse à empresa de mineração, seus trens transportavam a população em geral em viagens que aconteciam a cada 40 minutos. Com a abertura de uma estrada rodoviária de Belo Horizonte até Nova Lima, o transporte de passageiros da EFMV foi perdendo, paulatinamente, sua importância entre os anos 50 e 60 e foi mantido pela empresa até 1964 quando foi desativado. Como houve protestos dos funcionários e ameaças de greve contra o fechamento, a prefeitura de Nova Lima assumiu o controle da ferrovia que voltou então a funcionar em 1965 por mais cinco anos, exclusivamente com transporte de passageiros, quando foi desativada em definitivo em 1970 com a erradicação total da linha. 


Estação de raposos entre a linha da EFMV à esquerda e a linha da EFCB à direita
(Foto de Earl Clark divulgada no excelente site de Allen Morrison)


Pequena locomotiva elétrica prestes a tracionar dois carros de passageiros, enquanto 
funcionário ajusta o  contato do pantógrafo com a rede elétrica.  (Foto de Earl Clark 
divulgada no excelente site de Allen Morrison)


Embora houvesse a intenção de preservação da linha, a ideia não foi concretizada. Em parte do leito da antiga ferrovia, corre hoje a rodovia AMG 150. Se a linha ainda existisse, seria sem dúvida uma atração turística para as cidades que a abrigavam. 

Sobre a EFMV, há três ótimas referências nas quais este artigo apenas se baseou:















quarta-feira, 2 de maio de 2018

52 anos sem a Bahiminas: nota sobre a locomotiva 281

Neste mês de maio, completam-se 52 anos da extinção da Estrada de Ferro Bahia e Minas. A ferrovia foi oficialmente extinta em 1965, quando foi anexada à VFCO como se fosse um ramal, mas continuou funcionando por mais um ano até sua desativação em 1966 e permaneceu fisicamente em alguns trechos por cerca de dois anos no processo de erradicação dos trilhos, de 1966 até 1968. 

Como já comentei em artigo anterior (aqui), numa canetada, desconsiderando o contexto da região, o governo militar destruiu em cerca de dois anos uma obra que durou 61 anos para ser concluída à custa de muito trabalho e de vidas humanas. Inaugurada em maio de 1881, a Bahiminas partiu de Ponta de Areia, na Bahia, em direção a Minas Gerais, onde alcançou Araçuaí em 1942, fim da linha dos seus 578 quilômetros que funcionaram ininterruptamente até 66, por coincidência também no mês de maio. Procurei em várias fontes a data exata do fim das atividades da ferrovia ou do decreto que a extinguiu, mas só encontrei menção ao mês. 

Para relembrar a triste data, postei três imagens da locomotiva 281, as duas primeiras num momento de alegria e de festa em que aparece orgulhosamente enfeitada, junto a maquinistas, parada em frente a uma estação, tracionando trem de passageiros. 

281 enfeitada em trem de passageiros em frete a uma estação
(Fonte: Mucuri Cutural)


281 na mesma situação acima de outro ângulo
(Fonte: desconhecida)


No outro momento, a mesma locomotiva, em Ladainha, já sem limpa-trilhos e aparentemente com farol menor, em tarefa menos brilhante, na erradicação do "ramal", ajudando a eliminar a linha em que nunca mais rodaria, puxando vagões-gôndola carregados trilhos em direção a Teófilo Otoni onde seriam embarcados em carretas e levados para fundições. Ela, a 281, e possivelmente todas as outras locomotivas da ferrovia teriam o mesmo destino após o corte (com exceção de uma, que hoje jaz como estátua na praça Tiradentes em Teófilo Otoni):

281 em Ladainha durante a erradicação da linha
(Fonte: Ladainha, nossa história)
Triste aniversário.